Jornal Garança News 10/10/2024

Sudão e Sudão do Sul

Um cenário preocupante

Desde o período da colonização anglo-egípcia, criou-se uma rivalidade entre os povos distintos que habitavam o Sudão, sendo o norte muçulmano e o sul, cristão e animista.

Com os privilégios cedidos apenas ao norte, a tensão apenas aumentou; principalmente após a conquista da independência do país, quando o governo, completamente nortista, negligenciou ainda mais a população do sul, causando a primeira Guerra Civil Sudanesa, que durou de 1955 a 1972, quando foi dada autonomia ao sul.

Entretanto, em 1983, quando o presidente Jaafar Nimeiri revogou a autonomia sulista e impôs a lei islâmica em todo o Sudão, iniciou-se a Segunda Guerra Civil do país, cujo fim foi apenas em 2005.

Com a ação do neocolonialismo, ou seja, a ação de outras nações sobre o país, a situação de pobreza se evidenciou ainda mais, principalmente junto ao cenário de guerra, já que o sistema econômico do país ficou totalmente desestabilizado.

Sudão e Sudão do Sul: Separação e o nascimento do país mais novo do mundo.

Mapa Sudões

Por conta das diferenças étnicas e as tensões criadas ao longo dos anos e governos, pode-se dizer que o Sudão sempre foi dividido em norte e sul, mesmo sem uma fronteira oficial. Com o tempo, as divergências foram apenas aumentando e conflitos políticos passaram a acontecer, resultando, inclusive, em duas guerras civis que abalaram completamente a infraestrutura da nação.

Em 2011, quando houve a separação e o Sudão do Sul se tornou um país independente, milhares de pessoas migraram para lá. Entretanto, em 2013, o país se afundou em uma guerra civil que durou até 2018, cujas consequências foram um sistema político completamente desestabilizado e uma das piores crises humanitárias globais. O Sudão, também em condições extremamente vulneráveis, se encontra em conflito pelo poder e também em uma crise profunda. Em ambos os países, a situação econômica e política é muito delicada, assim como a de sobrevivência da população, que luta para resistir à falta de alimento, moradia, saneamento básico e acesso à saúde.

RSF vs SAF: a briga pelo poder no Sudão

A situação no Sudão é marcada por uma disputa de poder entre as Forças Armadas Sudanesas (SAF, na sigla em inglês) e as Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês), que tem sido um dos principais fatores da crise no país. As RSF, originalmente uma milícia chamada Janjaweed, ganharam força durante o conflito em Darfur e foram formalizadas em 2013 para atuar como uma força paramilitar de elite. Desde então, seu papel se expandiu significativamente, o que gerou tensões com as Forças Armadas regulares. Com o tempo, as RSF passaram a disputar diretamente o poder com as Forças Armadas Sudanesas, que são lideradas por Abdel Fattah al-Burhan, o chefe de Estado desde o golpe militar de 2021. A rivalidade entre Hemedti e Burhan, que eram aliados após a deposição de Omar al-Bashir em 2019, agravou-se em meio à transição política que deveria levar o Sudão a um governo civil. A disputa entre as SAF e as RSF é fundamentalmente uma luta por controle político e econômico do país. Após o golpe de 2021, no qual ambos os grupos foram centrais, as tensões cresceram devido à tentativa de integração das RSF nas Forças Armadas, parte de um acordo de transição mediado internacionalmente. As RSF resistiram a essa integração, temendo perder sua autonomia e influência. A crise culminou em confrontos violentos a partir de abril de 2023, quando as negociações sobre a reforma das forças de segurança falharam. O conflito resultante causou milhares de mortes e deslocamentos em massa, além de agravar uma delicada crise humanitária.

Guerra Civil Sudão

O andamento atual do conflito e a situação populacional.

A população do Sudão e do Sudão do Sul enfrenta graves dificuldades devido aos conflitos em curso. No Sudão, milhões de pessoas foram diretamente afetadas pela guerra entre as Forças Armadas e as Forças de Suporte Rápido (RSF). Desde o início dos combates, mais de 5 milhões de pessoas foram deslocadas internamente ou forçadas a buscar refúgio em países vizinhos. A crise humanitária é severa, com escassez de alimentos, água, medicamentos e serviços básicos, agravada pelo colapso da economia. Muitos civis vivem sob constante ameaça de violência, incluindo bombardeios e ataques nas áreas urbanas e rurais, com relatos de graves violações de direitos humanos. No Sudão do Sul, a população enfrenta desafios contínuos, apesar da redução da violência generalizada após o acordo de paz de 2018. Cerca de 2 milhões de pessoas continuam deslocadas internamente, e mais de 2 milhões buscaram refúgio em países vizinhos. A insegurança alimentar afeta mais de metade da população, com milhões em risco de fome devido à combinação de conflitos esporádicos, mudanças climáticas e colapso econômico. Além disso, a falta de acesso a serviços de saúde e educação agrava ainda mais a situação, tornando a recuperação lenta e incerta. Em ambos os países, a população vive uma realidade de deslocamento, insegurança e extrema vulnerabilidade.